por Bruna Freire Ribeiro
Yuval Noah Harari, autor do best-seller Sapiens, provocou o mundo ao afirmar que o super-humano destinado a viver 150 anos já nasceu. A previsão futurista ganha contornos de realidade ao observarmos o aumento significativo da expectativa de vida e do bem-estar em diversas partes do globo, especialmente nas chamadas Blue Zones (Zonas Azuis), regiões do planeta nas quais os habitantes vivem mais do que em qualquer outro lugar, chegando aos 100 anos de idade – Okinawa, no Japão; a região da Barbagia, na ilha italiana da Sardenha; a Península de Nicoya, na Costa Rica; Ikaria, na Grécia; e Loma Linda, na Califórnia, representam a geografia da longevidade.
No Brasil, essa agenda tem ganhado cada vez mais notoriedade. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que a nossa população está envelhecendo a passos largos. O percentual de pessoas com 65 anos ou mais atingiu 10,9%, um aumento recorde de 57,4% desde 2010. A idade mediana dos brasileiros cresceu seis anos, alcançando 35 anos em 2022. O índice de envelhecimento, que indica a proporção de idosos em relação a um grupo de 100 crianças, subiu da marca de 30, reportada em 2010, para 55 em 2022.
Especialista no tema, o renomado médico gerontólogo, Alexandre Kalache, alerta: “Vamos envelhecer em 19 anos o que a França envelheceu em 145 anos. De 2011 a 2030, o índice de pessoas com 60 anos ou mais vai dobrar”.
E o Brasil está preparado para lidar com essa realidade?
Para a médica geriatra, Juliana Duarte, o aumento crescente da população idosa no Brasil é desafiador e requer um olhar atento das políticas públicas. A busca por envelhecer bem, de forma ativa, com saúde e alegria, é cada vez mais frequente e consciente. E a boa saúde é possível se conquistar com a construção de bons hábitos, boas escolhas e estilo de vida.
Porém, enquanto a saúde somada à sabedoria de vida é um atributo relevante, a tendência do mercado é muitas vezes excluir e invisibilizar a pessoa madura.
NOVA CULTURA E POLÍTICAS INCLUSIVAS
Fundador da plataforma Maturi, que promove recolocação e capacitação para pessoas 50+, Mórris Litvak defende a necessidade de se construir uma nova cultura e políticas inclusivas para as pessoas maduras. “Enquanto o país envelhece, as empresas enfrentam o desafio de reconhecer e valorizar o potencial dos profissionais com mais experiência. As equipes intergeracionais, compostas por colaboradores de diferentes faixas etárias, tornam-se uma resposta positiva a esse desafio”, sugere com convicção.
“A diversidade etária nas empresas não apenas reflete a sociedade, mas também oferece uma gama de benefícios. Profissionais mais experientes contribuem com conhecimento consolidado, habilidades adquiridas ao longo dos anos e uma perspectiva. única sobre desafios corporativos, que muitas vezes recaem sobre jovens líderes com curto repertório de vivências”, complementa Mórris.
Nesse contexto, a plataforma criada por ele emerge como uma força motriz na promoção de uma mudança de paradigma nas relações de trabalho. Com a missão de adequar as estruturas empresariais à realidade do envelhecimento populacional e transformar a visão estigmatizada da maturidade em uma valorização das experiências e das competências acumuladas ao longo do tempo, a organização assume um grande desafio de sensibilização.
Vivemos tempos que demandam uma reconfiguração não apenas nos números demográficos, mas também nas mentalidades e nas práticas sociais. A diversidade etária é um ativo valioso a ser desenvolvido. Pessoas e empresas que abraçam essa realidade urgente colhem não apenas benefícios individuais, mas também semeiam uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
“Os benefícios de derrubar as barreiras e construir pontes, tendo o bem-estar como objetivo e a diversidade como estratégia, convoca a tão almejada saúde integral”, garante a Dra. Juliana. E segue: “uma das palavras mais bonitas do dicionário é CONVIVER, do latim convivere, dividir a vida, viver com, ter uma vida em comum”.
Feliz da comunidade que honra a comum idade.