Lichias do Interior de MG Ganham o Mundo
Com cerca de 300 hectares, Fazenda Olhos d’Água é modelo de biodiversidade e preservação ambiental
por Rayssa Lobato


Localizada em uma área da mata atlântica em Mateus Leme, a 60 quilômetros da capital mineira, a Fazenda Olhos d’Água é referência quando o assunto é plantio, cuidado e biodiversidade. O local pertence à família Nogueira desde 1955 e, atualmente, se posiciona como produtora sustentável de lichia reconhecida internacionalmente, completando, neste ano, a décima safra da fruta.
O nome da fazenda é uma alusão às nascentes naturais que formam seus enormes lagos. E, por ali, são cultivadas desde 2008 as primeiras lichias brasileiras com certificação internacional que atesta boas práticas agrícolas e sociais. O reconhecimento veio em 2021, ao receber o Global GAP e o Grasp, comprovando o cuidado com a natureza, o respeito com o ser humano e com tudo que envolve a cadeia produtiva.
A Fazenda Olhos D’Água possui uma grande diversidade de frutas nativas e exóticas. São mais de 120 espécies de manga, 12 espécies de abacate, cerca de mil pés de coco, banana, limão, mexerica sem caroço, laranja, açaí, dentre várias outras frutas raras, como uvaia, jabuticaba branca, pitanga preta e minirromã. Mas a rainha delas é a lichia, que se tornou o principal cultivo desde 2008.
A CEO da Red Lychee, Patrícia Nogueira, bateu um papo com a revista Diverso e compartilhou a história da fazenda, que começou nos pilares do respeito à natureza e traz a sustentabilidade e o bem-estar em formato de produtos.
Patrícia, fale para nós sobre a história da Fazenda Olhos d’Água. O começo de tudo foi na década de 1950, certo?
Sim. Tudo começou através do senhor Zé Nogueira, em um terreno que se resumia a mato e formiga. Meu marido, Cássio Nogueira, apaixonado pela natureza, despertou interesse pelo plantio já na década de 1980 e, despropositadamente, encontrou ali, no cultivo daquelas terras abandonadas pelo pai, uma fonte de descanso e bem-estar. Assim, o que era mato e formiga tornou-se um berço de biodiversidade.
Desde então, seguimos investindo em paisagismo, reflorestamento e plantio de todo tipo de mudas, que carregam história de lugares, pessoas e até de diferentes países. Além da tradição familiar que a Fazenda Olhos D’Água tem em seu DNA, cada planta reflete a história do Cássio, e isso hoje compõe um pomar que conta com mais de 100 tipos de frutas. Muitas delas, como a manga, chegam a ter mais de 120 espécies.
A fazenda possui hoje uma grande diversidade em suas colheitas. Como se iniciou essa plantação?
A história da fazenda começou com um pequeno terreno de menos de dois hectares. Com investimentos contínuos, contamos hoje com 300 hectares e muita riqueza em fauna e flora. Desse total, somente 30% são utilizados com benfeitorias, o restante é área de reserva, com mata nativa. Atualmente, temos a lichia como a produção principal, uma história que começou em 2006, quando o Cássio visitou um sítio que tinha pés antigos da fruta e ficou encantado!
Ele pediu algumas sementes e, um tempo depois, na visita de um agrônomo que estava avaliando nossas terras para um novo cultivo, percebeu-se o quanto os pezinhos tinham se desenvolvido. Ali nasceu um profundo estudo do potencial produtivo da fazenda para o cultivo da fruta. As análises comprovaram que se tratava do terroir ideal para uma produção de alta qualidade, com clima, solo e água em perfeitas condições. Além da bem-sucedida produção de lichias, também temos a plantação de manga, abacate, banana e citrus.



Conte mais sobre a produção da lichia e como esse processo ganhou destaque na fazenda.
Em 2008 plantamos o primeiro pomar, com dois mil pés. Dois anos depois, estruturamos um segundo pomar, com mais dois mil e quinhentos pés. A primeira safra rendeu oito toneladas e hoje temos a perspectiva de colheita de mais de 500 toneladas de lichia. Iniciamos com apenas uma variedade, chamada Bengal, e hoje temos mais seis plantadas, além de materiais genéticos do Brasil e também cultivares internacionais.
A lichia é uma cultura exótica e ainda pouco conhecida no Brasil. Com muita pesquisa e tecnologia, estamos desbravando todo o seu manejo de campo, desde o plantio, a nutrição, até o pós-colheita. É um trabalho que exige estudos de processos e embalagens especiais para prolongar o tempo de prateleira da fruta e evitar o escurecimento rápido da casca, o que ocorre devido à oxidação natural.
Ou seja, foram 10 anos de muita dedicação e constante aprendizado, participando de encontros e feiras internacionais, correndo atrás de conhecimento e contando com grandes parceiros do agronegócio brasileiro, em especial a ABRAFRUTAS (Associação Brasileira de Fruticultura), entidade da qual fui diretora financeira por alguns anos. Em 2019, demos um salto maior e expandimos em escala internacional, criando a nossa principal marca, a Red Lychee.
Hoje em dia, para onde vocês exportam? E qual o diferencial da Fazenda Olhos D’Água?
Já exportamos para a Alemanha, a França, o Canadá e até para países mais distantes, como o Kuwait. As nossas lichias possuem um tratamento nutricional e cuidados pé a pé, recebem irrigação com água especial de pH neutro e, com um manejo de campo supercriterioso, elas desenvolvem características únicas nas nossas terras. Elas são grandes, cheias de polpa e carregam um dulçor que encanta desde a criança até os adultos mais exigentes em sabor. E a nossa coloração vermelho-róseo a torna realmente incrível!
Além disso, fazemos uso de energia solar, adotamos manejo integrado de pragas em nossos pomares e tomamos todos os cuidados para não haver desperdício ou excesso em adubações e água, o que resulta em uma cadeia produtiva mais sustentável. Outro destaque é o reaproveitamento de toda matéria ou resíduo orgânico da fazenda para produzir nossa própria compostagem, um adubo natural que depois é utilizado nas plantas e no paisagismo.
Você falou da marca, Red Lychee. Como ela surgiu?
O nome surgiu quando eu estava participando de uma feira de frutas na Alemanha. Deixei os folders da fazenda no stand do Brasil, enquanto fui conhecer a feira. Quando retornei, tive a bela surpresa de saber que muitos visitantes e participantes do evento se interessaram pelo nosso projeto e queriam falar com a “mulher da lichia vermelha”. Assim, eu fiquei conhecida e logo surgiu o nome da marca: RED LYCHEE.
A floração de lichia ocorre entre os meses de junho e julho. E a colheita é feita em um período curto, entre meados de dezembro e início de janeiro. Como é trabalhada essa sazonalidade?
Isso mesmo, nossa safra acontece geralmente em dezembro e janeiro. Então, no início de dezembro já temos frutas no mercado, principalmente no mercado de São Paulo e também no internacional.
Trabalhamos basicamente com lichias embaladas, e nossas embalagens são especiais, tanto para a proteção da fruta como para evitar o escurecimento da casca, pois se ela for exposta diretamente ao oxigênio vai acabar escurecendo. A nossa colheita é manual e a fruta passa por uma triagem minuciosa antes de ser embalada e endereçada para o Brasil e o mundo.
E como estão as expectativas para este segundo semestre e para a safra de 2024?
Estamos bem animados e com alta expectativa. Temos como pretensão trabalhar com mais de 200 toneladas neste ano, além de fornecer diferentes produtos e inovações com a lichia. Ainda neste segundo semestre, pretendemos lançar novidades em produtos, e também novas criações com manga, outra fruta que tem tudo para ter uma grande safra na fazenda.


No ano passado, surgiu mais um projeto, o Empório Fazenda Olhos D’Água. Conte um pouco sobre esse espaço.
O empório fica localizado no bairro Belvedere, em Belo Horizonte, e tem como objetivo trazer o frescor do campo para a cidade. Ele carrega a história da fazenda, o dulçor das frutas e toda a nossa sustentabilidade, que prioriza a seleção de ingredientes nobres e de qualidade. Estamos sendo pioneiros nessa organização comercial para oferecer ao consumidor final produtos com lichia.
Qual o objetivo do empório?
Queremos que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer a lichia em diferentes possibilidades, criando memórias com essa fruta tão exótica. O empório expõe todos os produtos feitos na fazenda, de acordo com a sazonalidade de cada fruta. À medida que são produzidos, disponibilizamos doces, geleia de lichia com pimenta, geleia de lichia com hibisco, doces pastosos e de cortes, dentre tantos outros.
Além dessas opções, o cliente ainda pode encontrar na loja a lichia desidratada, que é uma iguaria, e a polpa congelada. Lá, contamos também com um segundo pavimento, onde montamos uma cozinha-conceito para trabalhar com a alta gastronomia. É um espaço super-requintado e que garante privacidade para eventos, sejam eles personalizados, corporativos ou de aniversários, e de forma totalmente exclusiva.