Infinitas Cortinas
Trabalhos do artista Manuel Carvalho merecem ser observados com calma e tempo, para que o mergulho em camadas seja revelador
por Lenora Rohlfs e Leopoldo Gurgel
A pintura de Manuel Carvalho tem calor, vida, cor e uma espessura poética que vai muito além das inúmeras camadas de tinta características de algumas séries que ele desenvolve.
São essas camadas que nos conectam a momentos distintos. É por elas que o nosso olhar pode penetrar, com um pouco de calma e algum tempo disponível, naquilo que o pintor deixa mais ou menos evidenciado, mais ou menos velado em sua arte.
Referências como a Op Arte, o Barroco e a pintura de gênero (retrato), por exemplo, são facilmente observadas, mesmo não sendo nenhuma delas o caminho onde aponta a estrada que começa na superfície da tela. Podem até construir sedutores percursos visuais, enquanto servem também como advertência para que se perceba que, além da borda, o mergulho é bem mais fundo.
Fundo e necessário a um espectador que também faz parte do conjunto da obra, envolvido entre jogos ópticos atordoantes que desfazem a estabilidade do olhar e um arsenal matreiro dessas referências, que constroem e dissolvem, figuram e abstraem.
Em uma de suas exposições, o artista afirmou que seu trabalho traz uma mistura de repertórios pessoais, imagens públicas e visões de mundo, bem como formas de representação movidas pela orquestração de cores, texturas e massas pictóricas.
Mesmo que ritmo, equilíbrio e até as surpresas do fazer possam criar um momento de encantamento, para Carvalho interessa fundamentalmente a relação íntima entre sua arte e os processos ligados à educação de modo geral. Uma arte para ser esmiuçada em todas as suas contingências criativas, de preferência para somar em projetos educacionais.
Manuel Carvalho nasceu em 1981, na cidade de Lavras, no interior de Minas Gerais. A peculiaridade do estado sem conexão com o mar desafia a sensibilidade e provoca, quem sabe, certa introspecção que não contraria o cosmopolitismo de artistas como ele, mas que, de alguma forma, aprofunda, vertical e não horizontalmente, uma sensibilidade confinada entre montanhas.
De formação erudita (frequentou a Escola Guignard- UEMG), Carvalho tem sua pesquisa cotidianamente desenvolvida pela prática organizada no recesso de seu ateliê. A superfície de suas telas apresenta-se como um campo de experimentação que confirma a permanência da pintura enquanto linguagem.
E é na pintura que o exercício de conjugar invenção e método nos brinda com uma obra autêntica, provocativa e pulsante. O que move as obras do artista é sua paixão pela pintura como forma de expressão de corpo e pensamento.