Geração Z reinventa o consumo de vinhos com foco em leveza, propósito e autenticidade

Jovens priorizam rótulos orgânicos, de baixa intervenção e com menor teor alcoólico, em busca de experiências conectadas aos próprios valores

jul 11, 2025

Com hábitos distintos das gerações anteriores, os jovens da Geração Z — nascidos entre meados da década de 1990 e 2010 — estão transformando o mercado de vinhos. A preferência recai sobre rótulos mais leves, sustentáveis, com menor teor alcoólico e de menor intervenção química, muitas vezes ligados a causas ambientais ou sociais. A busca não é apenas por sabor, mas por experiências e identidades que reflitam seus valores.

Segundo o sommelier Pablo Teixeira, sócio dos restaurantes Rex Bibendi e Cabernet Butiquim, ambos em Belo Horizonte, essa geração costuma iniciar seu contato com o vinho por meio de espumantes naturais, brancos frescos, rosés secos e tintos delicados, como o pinot noir. “O vinho precisa se adaptar ao estilo de vida do consumidor atual, e não o contrário. Eles querem vinhos fáceis de beber, que possam ser compartilhados em momentos de descontração, mas sem abrir mão da autenticidade e de saber de onde aquilo vem. A história por trás do rótulo importa tanto quanto o que está na taça”, afirma.

Essa mudança de perfil tem impulsionado a busca por rótulos de menor intervenção, que prezam por métodos mais naturais de produção, como a viticultura orgânica, o uso de leveduras indígenas e a mínima adição de sulfitos. Entre as opções que ganham destaque nesse movimento estão os vinhos biodinâmicos, valorizados por seguirem os ciclos naturais da terra e da lua.

No Cabernet Butiquim, por exemplo, a proposta é justamente descomplicar o vinho, aliando boa gastronomia a uma curadoria criteriosa. No portfólio da casa, um dos destaques é o espumante natural Maria Maria Sur Les Scaliers Nature, produzido na Serra da Mantiqueira. O rótulo reflete bem essa filosofia: elaborado com mínima interferência, sem adição de sulfitos e com foco na expressão do terroir mineiro.

Outros exemplos são o Cão Perdigueiro Sauvignon Blanc, produzido artesanalmente na Serra Gaúcha com perfil leve e aromático, e o Pizzato Sémillon, do Vale dos Vinhedos, que apresenta acidez equilibrada e boa estrutura. A escolha por vinhos nacionais reforça a valorização da produção local, outro ponto relevante para a Geração Z.

Novas formas de consumo

Além do tipo de vinho, a forma de consumo também passou por transformações. O ritual formal deu lugar a uma abordagem mais descomplicada, muitas vezes associada à convivência social em grupos ou eventos informais. A seleção de rótulos no salão do Rex Bibendi reflete essa mudança de comportamento. “A ideia é oferecer vinhos que conversem com a cozinha da casa e que ao mesmo tempo apresentem novas possibilidades ao público”, afirma Pablo.

Entre as iniciativas que incentivam a experimentação, destacam-se os Flights de Vinhos Especiais, que permitem ao cliente degustar três rótulos diferentes em taças de 100 ml. As seleções seguem temáticas variadas e são renovadas semanalmente. Há também opções fixas, como o ‘Voo nas Montanhas’, com foco em vinhos mineiros; o ‘Panorama’, dedicado a produções de um mesmo país; e o ‘Foguete’, voltado a rótulos internacionais.

Projetos com propostas sociais ou que promovem diversidade também despertam interesse. Vinícolas lideradas por mulheres ou pequenos produtores independentes, por exemplo, têm sido mais procuradas. A decisão de compra, nesse perfil de consumidor, está atrelada à identificação com os valores da marca ou da vinícola, mais do que à tradição ou prestígio.

O consumo de vinhos com menor teor alcoólico, embora ainda pouco difundido no Brasil, tem ganhado espaço entre os jovens por estar alinhado a hábitos de vida mais saudáveis. A importância dada à saúde e ao bem-estar também impacta o modo como esses consumidores se relacionam com o vinho. “A bebida vira uma oportunidade de desconexão digital e reconexão com o momento presente”, resume Pablo.

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A mudança de comportamento já influencia o mercado como um todo, levando produtores e estabelecimentos a reverem portfólios e propostas. Para a Geração Z, o vinho é menos sobre tradição e mais sobre autenticidade, leveza e significado.