É Tudo Sobre a Atitude
O barulho do conflito é perturbador, mas é menor que o silêncio da paz
por bruna freire ribeiro
Enquanto o tema ESG vem ganhando cada vez mais espaço dentro das agendas corporativas globais, a resistência ao assunto também se fortalece. Isso tudo acontece num cenário em que muita gente sequer compreende o que é ESG, mas segue a tendência de evitar o diálogo e de escolher um lado. O lado, sempre aquele que lhe parece mais adequado à sua identidade e às preferências individuais, aquele facilmente percebido e reforçado pelos famosos algoritmos da inteligência artificial e que desperta profunda aversão ao primeiro sinal de oposição.
Enquanto polarizam-se as opiniões, esvazia-se o ponto crucial de equilíbrio e a compreensão de que a vida depende de colaboração, diálogo e entendimento. Mas, afinal de contas, o que é ESG?
ESG é a sigla global — em inglês — que se refere aos termos Ambiental, Social e Governança e às boas práticas por eles orientadas para garantir a funcionalidade saudável de uma organização ou corporação. Fato é que a economia, operando apenas em busca de lucro, sem se responsabilizar pelas eventuais consequências negativas que gera na sociedade e no planeta, contribui diretamente para a insalubridade desses dois sistemas. Daí o surgimento de uma agenda que demanda que as organizações se responsabilizem pelo seu impacto ambiental, social e de governança.
E+S+G
Quando olhamos para essas três letrinhas na prática, temos pautas já pré-estabelecidas. O meio ambiente traz a urgente crise climática, que provoca ansiedade em quem conhece seu potencial e negação em quem a trata como superficial. A premente necessidade de descarbonização tem sido cada vez mais levada a sério por alguns atores relevantes do mercado, mas é cada vez menos eficiente para conter o exponencial aquecimento do planeta.
Já não há recursos naturais suficientes para sustentar o ritmo desenfreado da demanda de consumo da humanidade. E, conforme dados da Global Footprint Network, em 2024, a Terra atingirá a data de sobrecarga no dia 2 de agosto. Para sanar a situação próxima do irreversível, exige-se união, integração e ação consciente.
No social, a desigualdade econômica escancarada revela uma realidade extrema: a fome coexistindo com o desperdício de comida; e milhões de pessoas em situação de trabalho análogo à escravidão testemunham a fortuna dos cinco homens mais ricos do mundo aumentar 114% nos últimos quatro anos*. A ideia da dignidade humana parece utópica demais, soa mais simples normalizar a desumanização.
Lamento a densidade dos últimos parágrafos, e comprometo-me a suavizá-los com uma reflexão simples e oportuna. Parece que é justamente na letra G, da governança, que reside a capacidade de equilibrar a realidade pesada e transcender a polarização que envolve esses temas, trazendo consenso e entendimento. Trata-se de uma ordem maior determinada a promover o restabelecimento e a regeneração das relações que sustentam a teia da vida. Uma governança desenvolvida por lideranças conscientes desempenha um papel crucial, moldando a personalidade da organização e a integridade que a opera.
Contudo, este artigo não tem intenção de ser uma carta aberta às grandes lideranças globais detentoras de soberano poder de decisão (embora esteja à disposição, caso as encontre). O intuito aqui é sensibilizar a leitora e o leitor na sua atitude individual, desde a liderança mais íntima sobre si mesma (o) à mais hierárquica sobre seus grupos de influência. O chamado é para harmonizar sua auto governança, para apurar os ouvidos à escuta ativa e respeitosa da opinião diversa, para regenerar a saúde das relações que promovem a vida na Terra, para compreender que o barulho do conflito é perturbador, mas é menor que o silêncio da paz.
A atitude correta e positiva dá o tom para o entorno ressoar em harmonia. E aí vêm outras três letrinhas, também em inglês — M, E, W —, mostrando que, muito mais importantes que o ESG, tem um “EU” refletindo “NÓS”: ME = WE.