Coro pela Terra
2023: É tempo de agir para salvar o planeta! As mudanças climáticas que se aproximavam, chegaram. E são bem mais velozes do que a consciência sobre elas.
por Bruna Freire
Enquanto o problema de proporções imensuráveis exige esforços de união e integridade, a conquista de um consenso a respeito parece um horizonte distante.
De um lado, os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirmam que devemos reduzir radicalmente nossas emissões de gases de efeito estufa para evitar danos climáticos irreversíveis; de outro, líderes com poderes de decisão sobre o imbróglio têm metas e objetivos econômicos diametralmente opostos.
Nesse conflito de pontos de vista, os céticos se apressam em negar os fatos e a ciência. Abaixa-se o volume da razão, aumenta-se o da emoção e, de repente, a preocupação legítima com o planeta é rotulada como histérica. As emissões de "gases de efeito estufa", o "carbono", o "metano", e todos os termos técnicos que deveriam participar das conversas, desde as triviais às mais relevantes, ficam reservados aos especialistas.
Ocorre que, embora as emissões sejam invisíveis e difíceis de compreender, seus efeitos não são. Eventos climáticos extremos, como inundações, secas, ondas de calor, incêndios florestais e tempestades severas são cada vez mais frequentes. ‘Uma verdade inconveniente,’ como chamou o ex vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore.
Enquanto a sociedade teima em dividir opiniões, gerando uma polarização inútil, quem ganha força é a crise climática. A temperatura média mundial já subiu 1,1 °C, provando que a elevação da temperatura aumenta a frequência e a intensidade dos desastres climáticos, gerando agravamento da insegurança alimentar e hídrica em todo o mundo.
E, nessa busca por unidade, eleva-se Joanna Macy. Do alto da lucidez e sabedoria dos seus 94 anos, a ativista norte-americana, autora de doze livros, estudiosa do Budismo, da Teoria Geral dos Sistemas e da Ecologia Profunda, afirma que reconhece as duas narrativas, a do mercado e a da ciência, mas que não se interessa em discutir qual delas está certa, afinal, ambas estão acontecendo.
Terceira Alternativa
Joanna propõe, portanto, uma terceira alternativa, a que reconhece que o business as usual contribui para a crise climática, mas que não permita a ela ter a palavra final no destino da humanidade e do planeta. Sendo assim, a ativista recomenda a busca individual e genuína de uma visão clara do contexto global, de modo que possibilite escolher com consciência o rumo ao qual compartilha dos seus valores individuais, para enfim, caminhar nessa direção.
Para construir a visão clara do nosso momento atual, trago as palavras assertivas e delicadas que tive o privilégio de ouvir de Joanna: "Precisamos reconhecer que nosso planeta é um sistema vivo e que pertencemos a ele, como células de um corpo vivo".
"Pensávamos que éramos consumidores. Pensávamos que éramos trabalhadores operando as máquinas da sociedade de crescimento industrial. Pensávamos que precisávamos progredir enquanto indivíduos separados, competir, ganhar, ser o número um, aprisionados e encolhidos no egoísmo. E agora esta crise nos joga na cara: ‘Acorde! Você é a Vida na Terra!’"
"A característica mais marcante deste momento histórico na Terra não é o fato de estarmos a caminho de destruir o mundo – na verdade, já estamos nesse caminho há um bom tempo. A grande virada é que estamos acordando, como se estivéssemos em um sono de milênios, para um relacionamento totalmente novo com nosso mundo, com nós mesmos e uns com os outros."
A hora é agora: "Esta é a década para agir e ainda não começamos a fazer isso. Recuso-me a olhar para o futuro que a crise climática nos apresenta, isso nos desanimaria muito e seria muito abstrato. O que podemos fazer? Focar neste ano, nesta década! E há tanto que pode ser feito! Precisamos unir forças".
E ela completa com a metáfora do coro pela Terra: "Temos uma música maravilhosa para cantar, neste exato momento, para todas as pessoas juntas. E agora é a hora de unirmos todos os nossos corações e mentes".
Como disse o filósofo Jean Yves Leloup: "Nós escutamos o barulho do carvalho que cai, mas não escutamos o barulho da floresta que cresce. Hoje fala-se muito das coisas que estão desmoronando, que fazem barulho, mas o mais importante é aquilo que não se ouve; é preciso prestar atenção às sementes que estão brotando."
Quanto mais afinado o coro pela Terra, nossa casa comum, menos perceptível será o som que destoa.