Anotações de Encantamentos: Sobre a Exposição "A Forma não Cumpre a Função" de Francisco Nuk
A arte que transcende galerias: a exposição de Francisco Nuk e sua busca por conectar-se com novos públicos.
por Lenora Rohlfs
O trabalho do artista Francisco Nuk tem vida própria, como também talvez a tenha a matriz, mãe desse fazer, a marcenaria, que o rondou, roçou sua vontade e sua energia por diversas vezes, entre as viagens que fez pelo mundo.
Francisco Nuk vem de uma série de exposições no Rio e em São Paulo, respectivamente nas galerias Radiante e Lume, no CCBB de Brasília e, por último, no de Belo Horizonte, que para ele é a realização de um sonho. Mineiro da capital, ele nunca havia mostrado seu trabalho na terra natal.
A Forma não Cumpre a Função, título da mostra, levou sua arte para ser conhecida de perto por um público expressivo. Os números, ainda que não estejam precisamente contabilizados, alcançam bem mais de 50 mil visitantes.
Pela janela do Instagram, o número cada vez maior de seguidores já aprecia sua obra e conhece sua fisionomia. Mas o contato com gente que não necessariamente acompanha o meio das artes ou as galerias foi, para Nuk, como um objetivo conquistado.
Essa ideia já era nutrida por ele desde quando executou sua primeira peça. “É como se a arte, ali, se transformasse em uma espécie de anzol que fisga o espectador ao criar uma identificação entre ambos, talvez pela memória afetiva imbuída nela. E, assim, esse mesmo espectador pode ser atravessado pelo lado conceitual do objeto, criando novas interpretações e questionamentos sobre a obra”, sintetiza.
Em A Forma não Cumpre a Função, Nuk torce, encurva e enverga objetos de acordo com o que pede sua imaginação: uma cômoda ou cristaleira podem ser identificadas pelo conjunto das formas, mas não pela intenção, ou pelo inusitado que o artista emprega ao que faz. Precisam ser úteis apenas ao olhar e, assim, ganham o caráter de obra de arte em seu estado único.
OBRAS EM ESPERA
Depois dessa jornada de artista que vai aonde o povo está, Francisco Nuk está em franca produção de obras que ficaram em fila de espera, e já vendidas para colecionadores. “O que é legal é que essa parte de ter essas obras em espera faz parte de uma pequena conquista do artista”, comenta. Se atualmente ele gasta mais tempo produzindo do que criando, as ideias não param de surgir e algumas já passaram pelo processo de pesquisa e de testes, chegando a um lugar confortável para serem executadas.
A ansiedade pode até pensar em dizer “corre, Nuk, corre, para podermos ver mais de seu trabalho genial!” Arte não é assim. Por isso, só há para dizer: “Vai na sua toada, Nuk, que estaremos sempre despertos para aquilo que, na hora certa, você oferecer aos nossos olhares, aos outros sentidos, às nossas ideias e emoções”.