A Arte de Juliana Vasconcellos
Com o intuito de falar um pouco mais sobre seu trabalho, a mineira, que é considerada uma das expoentes da sua geração, conversou com a equipe da Revista Diverso sobre moda e projetos futuros.
por Rayssa Lobato


Arquiteta graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, com especialização em gestão de empreendimentos em arquitetura e construção, Juliana Lima Vasconcellos é uma mulher que analisa a história através da moda e da arquitetura. A paixão pelo desenho de produtos começou com a execução de móveis personalizados para clientes do seu escritório.
São várias peças representadas por galerias no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Juliana atualmente tem uma rotina dinâmica e se divide entre Belo Horizonte, Londres e um pouco em São Paulo. O escritório próprio, aberto em 2008, desenvolve projetos de arquitetura e interiores em várias cidades do mundo, e hoje ela comercializa, principalmente no exterior, sua linha de móveis. Todas as suas criações têm alma própria e expressam uma dualidade a tudo que existe.
Com o intuito de falar um pouco mais sobre seu trabalho, a mineira, que é considerada uma das expoentes da sua geração, conversou com a equipe da Revista Diverso sobre moda, projetos futuros, influências, sonhos e, claro, arquitetura.
Você é uma mulher que analisa a história através da moda e da arquitetura. De onde surgiu essa paixão pelo design de produtos?
Sempre tive uma atração muito forte pelas artes, por arquitetura, moda e design. Desde criança, falava que queria ser artista. Na adolescência, cheguei a pensar em ser estilista, já que minha mãe trabalha com moda. Acabei cursando arquitetura, pois tinha uma mente muito racional e achei que o curso era bem completo. O design de produtos veio 10 anos depois que me formei. Após um tempo criando móveis para meus projetos, percebi que tinham força própria, então me assumi designer. Hoje sou as duas coisas, me divido entre os dois e não tenho um preferido. Ambos fazem parte de mim!



Você vem de dois mercados dominados por mulheres, o da arquitetura e o da moda. Qual a importância do olhar feminino nessas duas áreas?
O mercado da arquitetura é dominado por homens, mas no design de interiores vemos mais mulheres. Acredito que pela sensibilidade maior, por conseguirmos nos conectar, quando estamos em uma área criativa. Precisamos colocar a nossa essência, ideias que se misturam com emoções e sonhos. Eu acredito que a mulher tem um acesso mais fácil pra isso, pois se volta mais para dentro de si, busca mais autoconhecimento. Além disso, a moda é muito mais consumida por mulheres do que por homens.
Seus projetos são uma mistura extremamente harmônica do clássico e do contemporâneo. Como você treinou esse seu olhar e o que foi essencial para chegar aqui hoje? Como você apura o seu bom gosto?
Sempre fui uma pessoa muito curiosa, com muitos interesses, além de ser bastante observadora. Presto atenção em tudo, em coisas estranhas, bonitas, bagunçadas, em pessoas, em natureza... Sempre tive uma sensibilidade muito grande pro visual e gosto de experienciar coisas diferentes.
Então, quando a gente busca o desconhecido, o diferente, acaba criando uma estética mais particular, fugindo do que está todo mundo acostumado a ver. Busco ver coisas e me emociono com isso. Sempre fui muito estudiosa, tive muita curiosidade por todos os designers de móveis, arquitetos e decoradores que fizeram nome no século XX. Vibro muito, tenho um olhar atento, de muito estudo e pesquisa. Assim, nos meus projetos, gosto de criar equilíbrio, combinar o contemporâneo com o modernista, com uma coisa minimalista e outra mais confortável, que tenha textura e cor.
Quando você olha pra trás e vê aonde chegou, qual seu maior orgulho? Quais sonhos ainda faltam realizar?
Sou muito grata por tudo na minha vida. Tenho uma família e amigos maravilhosos, além de uma profissão pela qual tenho muita paixão. Eu me sinto realizada. Tenho minhas metas e muita estratégia. É consequência de um trabalho duro, de muita dedicação e paixão pelo que faço.
Tenho muito orgulho de poder representar Minas Gerais e o Brasil na minha profissão. Fico muito feliz! Incentivo todo mundo a acreditar que pode chegar aonde quiser e buscar por conhecimento. Acredito que o céu é o limite pra quem estuda, trabalha, vai atrás e ama o que faz.


Qual foi o momento mais especial da sua carreira até o momento?
São dois momentos: o primeiro, quando uma peça minha foi adquirida pelo Museum of Arts and Design de Nova York, ponto importante de reconhecimento e que me deixou muito feliz. O segundo momento foi o primeiro ano em que entrei na A-List da Elle Decor americana, que lista os 101 profissionais de arquitetura, interiores e paisagismo mais influentes do mundo. Foi incrível e senti uma honra enorme! Neste ano fui nomeada pela terceira vez e, nessa lista, estão todos os meus ídolos. Todos os livros que tenho na prateleira estão nela, então foi um grande reconhecimento.
Até aqui, qual foi o seu projeto mais desafiador? Existe algum favorito?
O mais desafiador foi o primeiro projeto que fiz em Hong Kong. Por ser uma cultura diferente, me senti insegura sobre como ia ser a dinâmica, como iria conversar com outro modelo de pensamento e comportamento. Foi um desafio e hoje estou no meu terceiro projeto por lá. Fico muito feliz de poder romper barreiras culturais e ter uma linguagem que é aceita em vários lugares do mundo. Já o meu projeto favorito é um apartamento que fiz para um casal de amigos em Belo Horizonte. Ficou muito a ‘cara’ deles e, ao mesmo tempo, pude imprimir a minha linguagem de forma muito feliz.
O que a moda significa para você e qual a influência dela no seu trabalho?
A moda é uma forma de arte, de expressão da sociedade. E eu amo isso! Amo ler as pessoas através da moda, através da época em que viveram. Entender como a sociedade funcionava em determinado momento e país. A maneira como se vestiam mostra moral, costumes, leis, formas de interação... Acho isso muito rico e é uma forma de pertencimento.


Como você denomina seu estilo?
Não tenho um estilo muito definido. Sempre gostei de formas, de volumetria mais arquitetônica da moda, de umas coisas com recortes e volumes. Uma construção mais complexa, com peças que às vezes não via muitas pessoas usando. Hoje prezo o conforto. No dia a dia sou básica, mas sempre gostei de um acessório e de uma peça diferente.
Você tem Oscar Niemeyer como um ídolo. Qual a influência dele no seu trabalho?
Niemeyer conseguiu unir escultura, liberdade criativa de um artista visual para engenharia, com formas que às vezes têm uma estética de volume como se fosse de peso, mas ao mesmo tempo é leve e feminino. Considero ele o maior gênio que já existiu na arquitetura. E isso acaba me influenciando não diretamente, mas eu gosto da linguagem do modernismo dele, que tem uma curva, uma leveza e, ao mesmo tempo, uma presença muito forte.
E quais são seus planos futuros, seus objetivos no mercado?
Estou me estruturando para poder crescer mais, principalmente nos móveis. Tenho planos de abrir showroom em algumas cidades. São Paulo será a primeira. Além da in- tenção de ter mais projetos fora do Brasil e poder atendê-los da melhor maneira. Tenho parceiros em cada local, então meu plano é aumentar essa rede. E, com essa nova estrutura, ter mais escala, produtos e poder vender mais peças e fazer meu trabalho chegar a mais lugares.
BATE BOLA
Um lugar para passar o resto da vida: em uma cidade litorânea
Uma paixão: música clássica e arte
Uma cor: azul
Um prato: pode ser dois? (risos)... moqueca de frutos do mar e feijoada
Sonho de consumo: casa em uma praia deserta
Sua melhor qualidade: flexibilidade e paciência
O que você mais admira nos outros? alegria e leveza
Uma mania: escutar música no carro no volume máximo
Signo: Aquário com ascendente em Touro
Felicidade é: liberdade e amor
Lema de vida: gratidão sempre!
por rayssa lobato | foto henrique gualtieri | assist. foto walison couto |
beauty bruno cândido | styling inês yamaguchi | assist. styling isabella da silva | concepção bruno marinho